Naquela hora eu estava desligado e deixava as coisas fluírem, olhando o firmamento do melhor lugar do mundo, que é onde se deseja ficar em determinado momento. Estava vendo a vida acontecer sem querer fazer parte dela, enquanto ela escorria pelo leito do tempo, doce gozar do ócio. Nada que fizesse marca na memória e no hard disk real. Assim como se fosse uma parada para manutenção. Nessa situação, os sentidos captam as informações que vão deslizando até os neurônios sem serem represadas e deixam de formar o pensamento consistente, consciente. Neste, de outra forma, as sinapses vão sendo represadas como numa barragem e vão se acumulando até formar um pensamento completo, como as águas do rio que correm direto para a vazante e, se dão de cara com o fluxo em sentido contrário, são obrigadas a voltar ou se embolar, aí rola o pega-prá-capar intrigante e gostoso.
Senti, ou imaginei, para me tirar dos devaneios, alguma coisa caindo no meu peito, que me fez voltar à realidade. Prefiro imaginar que foi uma flor arrastada pelo vento, um bilhete da vida que só poderia trazer alguma notícia boa, senão seria uma pedra, um galho espinhento ou cocô de passarinho.
O nome veio escrito na pétala da flor imaginária, mas não era o nome verdadeiro, um pseudônimo. O grande perigo da identidade secreta é ter que assinar alguma coisa, esquecer e cometer suicídio. A imagem dela se formou com a ajuda dos neurônios que só cuidam de imaginação. Estes têm vida longa e são muito diferentes dos que trabalham na realidade, que fazem muito esforço e têm vida curta e, no instante ulterior, já se tornaram passado. Ah, Mulher!... “Se ela soubesse que quando ela passa...” - Todo mundo sabe o que o Tom falou e eu não vou repetir - Você faz os meus neurônios cometerem adultério, na iminência periclitante do perjúrio.
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