domingo, 30 de dezembro de 2012

Enquanto ele morre

 
Ele morre todo dia.
Aos pouquinhos e bem devagar.
Faltam-lhe flores cheirosas no jarro e
roupas engomadas na gaveta.

Ele morre nas noites também.
Nas noites de céu limpo e bem estrelado.
Pela falta de cigarras nos caules das árvores e
Rãs novas nas paredes do poço.

Ele morre no sábado de sol farto.
Sábado de feriado ou de aleluia.
Pela falta de semente no solo fértil e
A falta de chuva no chão árido de seu quintal.

Ele morre. Ele morre.
Isto é o que importa neste nascer e morrer.
Deste viver constante, deste continuar estressante.
Desta travessia na ponte das ilusões.

Ele morre por hoje e
Por ontem e amanhã um pouco mais.
Por falta de insônia, silêncio.
Por falta de amor, por causa da fome, da guerra.

Ele morre cedo. Morre tarde.
E o pó do seu corpo corre com o vento lá fora.
Faz redemoinho na entrada da rua,
Feito letras soltas sendo atiradas de um lado para o outro.

E a ventania cessa. Ele morre.
Mas, as lagartas se acumulam no chão.
A primavera aponta na quina da varanda
O cinza já não é tão cinza. Sei que as cores não virão.

Ele morre enquanto nascem borboletas no jardim.
E morrer já é suficiente por um dia. Eu fico triste.
E sinto suas asas batendo forte, indo além do muro pichado.
Sinto o beijo fresco na minha nuca, despedindo de mim.

Surgindo noutro lugar...
Feito passado errante!

Quero ir também. Ele pode. Por que eu não?
Posso correr, rastejar... Já que não posso amar de novo,
posso me costurar por dentro. Enquanto ele morre,
posso ser anjo, mesmo com asas quebradas
 
 
 
 
By Sulla Mino

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

NÉCTAR DOS DESEJOS...- DUETO COM DORA ESTRELA


Eu, às vezes, me pego a divagar,
Deixando os meus pensamentos
Fluírem em fantasia,
Ignorando que não aconteceu;
Que o teu amor é, ainda, meu.
Flor que vive eternamente no meu peito,
Que eu amei de verdade
E senti de todo jeito.
Quanto prazer me deu
O amor que fizemos sem defeito:
Pela manhã, idílio no jardim,
E à noite, lascívia no meu leito.



(Mario Rezende)
































Eu, às vezes, me pego a sonhar
Permitindo embriagar-me
Em sóbrias lembranças tuas.
Quanta coisa se perdeu
Mas algo em mim sobreviveu
O sentimento inexplicável,
O despertar em teus braços...
Ah, quanto me apeteceu!
O deleite provocante dos teus beijos
O doce perfume dessa flor
E o néctar vassalo dos desejos.
 
( Dora Estrela)