quarta-feira, 17 de agosto de 2016

VARAL DO BRASIL - O QUE ESTÁ ESCRITO NÃO MORRE


COMUNICADO

A TODOS OS AMIGOS QUE ACOMPANHAM O VARAL DO BRASIL
 
SABER O MOMENTO EXATO
 
Saber o momento exato para alguma coisa é algo muito difícil, se não for, mesmo, algo impossível. O momento exato de começar algo, de levar adiante e enfim, de parar. Eis o que talvez seja o mais difícil de tudo. Saber o momento de parar.

Hoje, a dois meses de completar sete anos de atividades, venho comunicar a todos os amigos que o VARAL DO BRASIL está encerrando suas atividades, nelas incluindo aqui a revista literária, motor do que se tornou o Varal para a comunidade literária lusófona internacional.

Iniciei o Varal em 2009 com o objetivo de fazer “literatura sem frescuras” num mundo literário avesso à simplicidade e aos escritores “iniciantes”. Considero que fui longe, bem mais do que poderia sequer mesmo imaginei. A revista, as antologias, os concursos, as participações no Salão Internacional do Livro de Genebra, os eventos aqui na Suíça e no Brasil... Um longo, frutuoso e feliz caminho, por onde fui encontrando pessoas que hoje são mais do que pessoas conhecidas, são amigas que guardo no coração.

Quando comecei o Varal não havia atividade literária brasileira aqui na Suíça e as atividades literárias brasileiras pela Europa eram muito poucas e nada parecido com o Varal existia. Fui pioneira em tantos projetos nesta área que confesso, se não ouvisse de outras pessoas o que ouço, custaria a acreditar que fiz mesmo tudo isto. Dei trabalho? Deu, ô seu deu.... Mas valeu tanto a pena!

Iniciei e termino as atividades do Varal do mesmo jeito que elas sempre foram realizadas: sozinha. Sempre me perguntaram (e me perguntam) sobre minha equipe. Enviam até Feliz Natal para minha equipe e minha filha bem que tentou me fazer “criar” uma secretária para ao menos dar uma “boa impressão”...
Mas não havia mais ninguém. Meu sonho sempre foi muito particular e, no fim das contas, trabalhar meio solitária, mas com música e meu cachorrinho do lado, é algo que muito aprecio. Bem, fica então aqui registrado, nesta despedida, que o VARAL DO BRASIL sempre foi apenas eu mesma, sem equipe. Vocês conhecem aquele “homem-orquestra” que toca pelas ruas em alguns lugares pelo mundo e algumas vezes faz shows por aí? Pois é, eis o que fui para o Varal do Brasil. Com muita vontade, força e alegria, respondi milhares de e-mails, mensagens recebidas no site, blog e redes sociais. Li, analisei, revisei milhares de textos de todos os gêneros. Li e divulguei centenas de livros. Mais de sessenta números da revista circularam e circulam pelos cinco continentes, levando literatura lusófona da forma mais descontraída possível a pessoas que não tinham acesso a ela antes que nosso Varal fosse pendurado pelos céus literários. Fui aos poucos aprendendo a lidar com os softwares necessários para a edição, fotografia e etc... Horas sem número de pesquisas, leituras, escolhas de capa, ilustrações.... Enfim, com dedicação e todo o amor que sempre tive pela literatura e pelas pessoas com ela envolvidas. Viajei muito, montei e desmontei estandes (com a ajuda fiel e preciosa do Paulo), carreguei muitas malas e caixas de livros por aqui e pelo Brasil! Derrubei caixa de livros sobre os pés, chorei de cansaço, gritei inúmeras vezes que não faria mais nada. Mas continuei, sempre por amor, livros embaixo dos braços e muito boa vontade no coração. Enfim, fui à luta pela literatura sem frescuras tão cara à minha vida!

Sempre tive o apoio do Paulo e dos meus filhos, que tantas vezes me esclareciam, abriam os olhos, me faziam críticas necessárias e construtivas e foram meu braço direito durante os dias de Salão do Livro aqui em Genebra. Minha filha sempre prática e certeira me dando conselhos preciosos; meu filho, artista na alma, dando ideias que só poderiam vir de alguém talentoso como ele. Ao Paulo, companheiro incansável do cotidiano e das lutas do Varal,  serei eternamente grata por tudo o que representou para mim enquanto Varal do Brasil, investindo seu tempo no Salão e outros eventos e, não poderia deixar de dizer, investindo financeiramente de forma massiva para que as antologias e o estande em Genebra pudessem se realizar. E para que a revista fosse sempre gratuita como o será até seu último número. Não vou esquecer que até uma livraria tentei fazer aqui, sem muito sucesso, tendo em vista a dificuldade de encontrar em Genebra e região o público alvo necessário. Mas tentei.

Tenho que agradecer de todo o coração os colaboradores da revista, alguns desde o primeiro número, fiéis escudeiros que me acompanham há anos e que foram, sem dúvida alguma, as sementes e os frutos sem os quais não haveria a revista! Não citarei nomes para não deixar algum de lado, pois foram mais de mil pessoas que passaram pelo Varal no seu conjunto de atividades. Porém,  saibam, não esqueço o nome de vocês porque sei, “de cor e salteado” como se chama todo aquele e toda aquela que já participou de algo que tenha feito com o Varal do Brasil! Conheço todos, sem exceção e sou fã!
 
Agradeço também, com o coração, a todos os leitores amigos, sinceros, críticos, elogiosos, pessoas que foram fundamentais para a existência da revista! Graças aos leitores, a repercussão do Varal do Brasil sempre foi grande, cada edição indo mais longe que anterior. Agradeço particularmente aqueles que disponibilizaram a revista em seus sites e blogs, compartilharam por e-mail e nas redes sociais. Agradeço também, coração na mão, aos que levaram a revista à imprensa, escreveram notas, artigos, etc. Vocês todos são mil!

O VARAL DO BRASIL uniu pessoas pelo mundo. (Sim, eu sei, acabei de dizer que o Varal sou “eu sozinha” e depois escrevo desta forma... Pois é, e eu mesma já me acostumei a falar de mim na terceira pessoa me chamando de Varal. Cansei de ir a lugares onde as pessoas se dirigiam a mim como: “Ah, você que é o Varal? ” E eu, muito naturalmente, respondia sim...!) Minha mãe diria que é para isto que nasci, “para juntar as pessoas”, mesmo as mais diferentes! Ela me dizia isto lá na infância, depois repetiu na juventude e na idade adulta, ao me ver reunir os amigos, que geralmente pertenciam a turmas distintas e se reencontravam através de mim. Devo ser mesmo de natureza agregadora, pois faço isto naturalmente e me sinto tão feliz!

Através... Sim, através dos eventos, das antologias e da própria revista, as pessoas foram se unindo, reunindo, fazendo amizade umas com as outras, criando projetos juntas, concretizando planos, criando e desenvolvendo coisas nas quais me sinto incluída e muitas das quais me orgulho. Este é o maior legado que estou deixando ao encerrar o Varal: um traço forte de união e amizade que permanecerá além do que fiz, aliado a um conjunto de realizações que seguem levando a literatura lusófona adiante aqui no exterior.
Como eu disse no início, saber o momento exato para algo é de uma impossibilidade que até os céus hão de concordar! Mas na verdade, não é preciso saber. É preciso sentir. Sentir na alma, no coração. E quando se tem este sentimento, não há dúvida, é a hora. 

Bem, chegou minha hora de parar. A “mulher-orquestra” do Varal encerra suas atividades feliz com tudo o que realizou, realizada com tudo o que foi cumprido e que nunca foi um dever ou uma obrigação. Teve com ela músicos de excelente qualidade que, de tantos lugares, vieram e tocaram junto. Despedidas duras se fizeram (Saudades da Renata e da Sáskia que partiram!),  assim como se solidificaram amizades apesar da distância.

Agradeço a todos os que participaram, que enviaram textos, que me alegraram com suas mensagens e papos, com seus sorrisos, gargalhadas, incentivos, dicas, comentários. Agradeço aos que me enviaram críticas que me fizeram crescer, ser uma pessoa melhor e fazer melhor o meu trabalho. Agradeço a todos os que tentaram, infelizmente, me fazer mal, pois estes últimos foram o mal necessário para que meus olhos se abrissem mais e meus pés permanecessem no chão.
 
Todos são parte daquilo que que sinto na alma: Houve uma vitória! Vejo isto ao ver o que se tornou o Varal hoje. Sucesso consolidado.  

Enfim, chegou a hora de fechar as cortinas. Em setembro, quando a edição for distribuída, será o final deste projeto de literatura sem frescuras que conquistou tantos poetas, tantos escritores, tantas inspirações. Mas não será o fim das amizades.... Nos veremos por aí, porque a revista Varal se encerrará, mas a vida continua!

Abraço amigo, com carinho,
Jacqueline (Varal do Brasil)

Prezada Jacqueline,
Embora ainda não a conheça pessoalmente, quero deixar registrado o meu apreço pela pessoa que demonstra ser muito gentil, educada, culta, inteligente e interessada em disseminar o saber e a cultura.
Quanto a trabalhar sozinha na realização do seu objetivo, você conseguiu o valoroso resultado, acredito eu, porque consegue ser várias mulheres ao mesmo tempo, cada uma fazendo a sua parte, para mostrar ao mundo com o Varal, que o universo das artes e  literatura  brasileira, não se resume ao que encontramos nas livrarias.
Muito obrigado por dar a oportunidade de incluir o meu nome como um dos componentes  desse rico trabalho. 
Seja muito feliz ao lado dos seus.

Mario Rezende