domingo, 13 de março de 2011

O ELEITOR E O SUFRÁGIO


O ELEITOR E O SUFRÁGIO

Hoje foi dia de votar. Dia de eleger deputados, senadores, governadores e até presidente. Acordei contrariado porque, além disso, estava chovendo. Aquela chuva fininha que, dá a impressão, molha mais que a grossa. Esta parece que é mais espalhada, a fininha cai unida e encharca. De qualquer forma existe o guarda-chuva, que apesar de ser útil, é inconveniente e a maioria das pessoas não gosta de usar. Eu pelo menos evito e só uso quando não tem jeito mesmo. Ele protege da água que vem de cima pelo menos até a altura das pernas. A que vem de baixo, quando alguém pisa firme numa poça ou pelos lados, jogada por um motorista mau caráter, só um palavrão para aliviar, mas mesmo assim ficamos molhados. Azar dos pés, que não temos como proteger e ficam à mercê da chuva e das poças. Antigamente existiam as galochas que funcionavam como capas para os sapatos, permitindo aos pés se manterem secos, como o próprio nome já dizia: anidropodoteca (galocha era o nome popular).
Mas o maior motivo da minha contrariedade é mesmo ter que sair de casa para cumprir a obrigação de votar. O principal instrumento democrático que incoerentemente é obrigatório, denuncia que vivemos sob um regime autoritário disfarçado. Pelo fato de ser imposto já não é muito simpático. Se não fosse assim, poucos se disporiam a perder tempo para se deslocar até a urna. Não bastasse, ainda temos que engolir a palhaçada do horário eleitoral gratuito, apesar de que podemos desligar a televisão.  Mas a maioria gosta desse tipo de coisa. Tudo é motivo para festa, aposta. Fica torcendo para que o candidato em quem ele votou chegue em primeiro, acompanhando a contagem dos votos como se fosse concurso de escolas de samba. Discute, sai no braço, deixa de falar, ganha inimigo e até mata. Pior que o sujeito, geralmente, nem conhece a pessoa pelo qual está se aborrecendo. Muito pior é que o único objetivo do candidato é se eleger para usufruir dos benefícios e de todas as mordomias inerentes àqueles que alcançam os três poderes. Depois, eleito, adeus, vai tratar de si, o eleitor que se dane. Se fosse ele faria a mesma coisa.
No caminho para a seção em que eu voto, um homem me abordou dizendo que é mendigo (ele disse mindingo, claro) há mais de dez anos e queria saber se poderia votar. Disse que nem sabe onde foi parar o título, mas queria votar no atual governo, porque pelo menos agora consegue almoçar por um real no restaurante popular e ele tem muito medo que alguém acabe com essa mordomia, então vai ficar mais difícil comer. Arrumar um real é mole, dez é quase impossível.
É por isso que eu voto nulo. Pelo menos do mal do arrependimento não padeço. Além disso levo a vantagem de que não careço decorar número de candidato, levar cola, etc. Também não preciso assistir a debates baixo nível, nem ficar com complexo de culpa se o governo do sujeito eleito não der resultado e ainda posso culpar os outros: “Tá vendo, quem mandou votar no cara?”

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