terça-feira, 17 de junho de 2014

Inventando as muitas de mim...



Inventei em mim uma pausa tosca. Uma clave que anuncia como deve ser lida minha vida. Ou apenas uma delas. Um negrito também pode ser,  em partes importantes daqui de dentro. Inventei amor cravado no peito e pétalas roxas que se espalham no chão. Inventei em mim a tristeza feliz e uma bela escadaria com degraus sem medos. E acariciei-me lentamente, sentindo os pelos suaves da minha face, me fazendo cócegas e avivando todos os sentimentos presos dentro de mim. E quando a noite apontou em minha janela, sonhei em ser mulher,  um sopro gigante que pudesse abafar a vontade do sexo, de fazer guerra, de beber o vinho bom. Sonhei em ser mais louca, em ser o que não pode ser, ou apenas uma noviça que roça nas pernas da saudade. 

E assim vou me inventando... Em silêncio profundo ou gritando feito uma demente pelas ruas estreitas do bairro.  E me inventar não é tarefa fácil. É como domar um belo cão feroz e descer na tirolesa em dia de chuva grossa... É feito geometria em sala de aula e tentativa de passar um delineador preto... Me amo e não quero sentir falta de mim, ou das minhas agonias e das minhas incansáveis insônias. Sou freguesa da minha própria solidão, das minhas artimanhas e das minhas tolas manhãs. Manhãs de sol pouco em minha pele pálida, e mesmo assim não me sinto tão menina ou vampira assustada... Ó Deuses! Perdoa por eu ser tão ninfeta, tão  ¨inventora¨ de estranhas sensações. E assim vou me inventando... Me criando em berço feito um bebê mimado, ou até igual passarinho aprendendo a voar. Mais vou com passos poucos, bem devagar... Feito uma moça curiosa com livro novo nas mãos. 

E entorno de mim as borboletas são cintiladas e discretas, meramente sutis. E com elas bailo por entre as cercas e farpas do meu paraíso, na minha linda sofreguidão. Ó Safo! Deusa que habita em meus rascunhos diversos, e com você me sinto poetisa e crio em meus versos somente palavras de amor. Sou apenas uma amante de mim mesma, em meus meros fragmentos. Cacos ordinários destas infames que moram dentro de mim. 

Me consomem feio o transbordar da água límpida do chafariz. Invento freneticamente as muitas de mim, no meu bravejar ao crepúsculo e no meu cantar tranquilo debaixo do chuveiro... E assim vou sendo eu... Sozinha, rústica e feliz!

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