Inventei em mim uma
pausa tosca. Uma clave que anuncia como deve ser lida minha vida. Ou apenas uma
delas. Um negrito também pode ser, em
partes importantes daqui de dentro. Inventei amor cravado no peito e pétalas
roxas que se espalham no chão. Inventei em mim a tristeza feliz e uma bela escadaria
com degraus sem medos. E acariciei-me lentamente, sentindo os pelos suaves da minha
face, me fazendo cócegas e avivando todos os sentimentos presos dentro de mim.
E quando a noite apontou em minha janela, sonhei em ser mulher, um sopro gigante que pudesse abafar a vontade
do sexo, de fazer guerra, de beber o vinho bom. Sonhei em ser mais louca, em
ser o que não pode ser, ou apenas uma noviça que roça nas pernas da saudade.
E
assim vou me inventando... Em silêncio profundo ou gritando feito uma demente
pelas ruas estreitas do bairro. E me
inventar não é tarefa fácil. É como domar um belo cão feroz e descer na
tirolesa em dia de chuva grossa... É feito geometria em sala de aula e
tentativa de passar um delineador preto... Me amo e não quero sentir falta de
mim, ou das minhas agonias e das minhas incansáveis insônias. Sou freguesa da
minha própria solidão, das minhas artimanhas e das minhas tolas manhãs. Manhãs
de sol pouco em minha pele pálida, e mesmo assim não me sinto tão menina ou
vampira assustada... Ó Deuses! Perdoa por eu ser tão ninfeta, tão ¨inventora¨ de estranhas sensações. E assim
vou me inventando... Me criando em berço feito um bebê mimado, ou até igual
passarinho aprendendo a voar. Mais vou com passos poucos, bem devagar... Feito
uma moça curiosa com livro novo nas mãos.
E entorno de mim as borboletas são
cintiladas e discretas, meramente sutis. E com elas bailo por entre as cercas e
farpas do meu paraíso, na minha linda sofreguidão. Ó Safo! Deusa que habita em
meus rascunhos diversos, e com você me sinto poetisa e crio em meus versos
somente palavras de amor. Sou apenas uma amante de mim mesma, em meus meros
fragmentos. Cacos ordinários destas infames que moram dentro de mim.
Me
consomem feio o transbordar da água límpida do chafariz. Invento freneticamente
as muitas de mim, no meu bravejar ao crepúsculo e no meu cantar tranquilo
debaixo do chuveiro... E assim vou sendo eu... Sozinha, rústica e feliz!
E eu... Babando.
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