Mario Rezende e seus amigos escritores, poetas poetisas e artistas construindo com argumentos...
segunda-feira, 25 de dezembro de 2023
quarta-feira, 13 de dezembro de 2023
Para uma criança que termina o quinto ano
No último dia 08, eu e meus colegas de trabalho decidimos fazer uma surpresa para os alunos do quinto ano que no próximo ano iniciaram uma nova etapa, em outra escola. Escrevi essa poesia para eles e entregamos junto com um pacote de jujubas para cada um. Acho que eles gostaram mais dos doces que do poema…rs… É muito estranho se despedir de uma turminha que você conhece desde que estavam na pré-escola. Dá uma saudade antecipada…rs
De repente, parece que o tempo voou
O quinto ano se despede. Um ciclo se finda.
No recreio, risadas. Na sala, o aprendizado
O coração lembrará com saudade:
De tantos momentos, de tantas histórias.
As páginas da vida se viram com o vento que sopra.
Inúmeras belas memórias!
Olhem para trás com gratidão, para o que aprenderam
Construam os sonhos que na infância teceram
Estudem com muito afinco e vigor,
Pois o conhecimento é a chave, é luz, é amor.
Lembrem:
No livro, na caneta, na mente inquieta,
Está o poder de transformar o que nos afeta.
Estudem não apenas para alcançar o sucesso,
Mas para serem alicerces de mudanças e progresso.
Que a luz do saber possa sempre brilhar no olhar
E que a curiosidade os guie como farol
Sigam em frente, como rios que encontram o mar:
Novos desafios os esperam, é hora de navegar!
A viagem da vida nem sempre é fácil, mas é bela!
Escrevam seus destinos, desenhem sua aquarela
Vocês são as esperança e o brilho do amanhã
Voem alto, construam um novo mundo
Mas recordem-se com carinho deste lugar que os viu crescer.
E saibam que nós estamos aqui, sempre a torcer
Para que a vida os presenteie com vitórias a cada alvorecer!
domingo, 3 de dezembro de 2023
Insustentável
Basta ligar a televisão ou pesquisar em portais de notícias de confiança e ela estará lá, nos observando com olhos famintos: A extinção. A M0rt3. Não é preciso ser um gênio para perceber que construímos uma sociedade globalizada onde poucos acumulam lucros e muitos amargam consequências, não apenas financeiras, de termos um mundo equilibrado na corda bamba do capitalismo e da superexploração de recursos naturais. Ondas de calor, inundações, incêndios, tempestades e doenças. Vivemos as consequências de um projeto que começou séculos atrás, quando pela primeira vez alguém cercou um pedaço de terra e atribuiu a si mesmo a propriedade daquele espaço. Ao entender a Terra e os recursos naturais como propriedade, o ser humano se desvinculou de sua mãe primordial e partiu rumo às aventuras da acumulação (de dinheiro e poder). De filhos da Terra, tornamo-nos usurpadores impiedosos. Talvez, se a propriedade não existisse, muito do que conhecemos hoje ainda nem sonharia em ser desenvolvido, haja vista que tudo é uma consequência de um fato social anterior e até mesmo as guerras foram responsáveis por saltos tecnológicos. Mas estaria tudo bem. Talvez nossos trabalhos ainda fossem mais embrutecidos e manuais, todavia nossa sensação de realização no final do dia seria outra, conheceríamos uma felicidade intensa, simples e verdadeira. E não estaríamos vivenciando a superpopulação e o desequilíbrio ecológico. A triste verdade é que nossa existência, do modo que conhecemos, é insustentável. Ou partimos para uma revolução ecossocialista ou pereceremos. Infelizmente, não acredito que o ser humano tenha condições de saber o melhor para si - vivendo como se nada extraordinário ocorresse todos os dias, empurra para as gerações futuras os problemas causados em nome do lucro e, quando ocorrem tragédias, culpam o destino. Desejam uma solução para novos problemas seguindo hábitos arraigados e estúpidos. Por aqui, sigo observando, sem um pingo de orgulho do mundo que estamos nos preparando para entregar aos nossos jovens, sigo desejando uma (r)evolução ecossocialista que coloque a vida, e não o lucro, no centro da sociedade. A esperança é a última, que morre. Sigamos.
domingo, 19 de novembro de 2023
domingo, 22 de outubro de 2023
sábado, 14 de outubro de 2023
domingo, 1 de outubro de 2023
sábado, 9 de setembro de 2023
domingo, 3 de setembro de 2023
terça-feira, 25 de julho de 2023
sábado, 24 de junho de 2023
sábado, 17 de junho de 2023
domingo, 4 de junho de 2023
domingo, 28 de maio de 2023
MÃE
MÃE
Ser mãe é encontrar,
no sorriso dos seus filhos,
toda a alegria de viver.
Confirmar, com o entrelaçar das mãos,
a certeza da confiança na orientação
dos caminhos a seguir na vida.
Observar, no brilho dos olhos dos filhos,
a demonstração da riqueza de ser
alguém que os inspirou.
É ter a satisfação por atingir o objetivo
para o qual os gerou e criou com amor.
Mario Rezende
domingo, 30 de abril de 2023
domingo, 23 de abril de 2023
sábado, 22 de abril de 2023
domingo, 16 de abril de 2023
sexta-feira, 7 de abril de 2023
sábado, 25 de março de 2023
sábado, 25 de fevereiro de 2023
domingo, 19 de fevereiro de 2023
A Dança Sombria
No carnaval Heitor se sentia vivo. Ele sempre gostou de dançar. Quando menino vestia sua roupa mais colorida e passava horas imitando coreografias da moda ou rodopiando – Seu mundo era música e a sensação dos pés descalços tocando o chão. Infelizmente o tempo o obrigou a guardar seus sonhos dentro de uma caixa enterrada no fundo da alma – Faculdade, trabalho e rotina o fizeram entender que ele não faria parte daqueles poucos bem-aventurados que fazem da paixão sua profissão. Como havia sobrevivido sem carnaval durante os tristes anos da pandemia de COVID-19 era um mistério que agora pouco importava: O carnaval finalmente havia voltado.
Aconteceu durante o Bloco das Ba-Bahianas sem Taboleiro, tradicionalíssimo em São Vicente. Heitor dançava, deixando a música libertá-lo de suas amarras: Vergonha, insegurança e timidez iam sendo pisadas pelos pés ágeis e velozes. No mar de foliões, um olhar chamou a atenção: Aquele rapaz negro retinto de olhos côr de âmbar, vestido com um short de linho e um colar de sementes vermelhas não parava de encará-lo. Um flerte logo correspondido pelo seu corpo.
– Quem é você?
– Sou um gênio. Posso realizar teu desejo mais profundo.
Meio bêbado, Heitor apenas sussurrou: Tudo o que eu quero é dançar para sempre. Até morrer. E beijou o belo desconhecido. Os lábios quentes tinham sabor de tâmaras frescas e mel.
Heitor repentinamente se viu num palco – A folia havia sumido. O samba, o trio elétrico e aquele homem lindo haviam desaparecido. Ele dançava abraçado a uma bailarina enquanto uma música tocava e a cortina abria e fechava, Não parava nunca. Ele não via a plateia, apenas um vidro e dois olhos que espiavam de tempos em tempos. Ele não conseguia parar de dançar nem soltar a bailarina que lhe parecia um manequim: Muda e gelada. Ouvia conversas de pessoas incomodadas com o som contínuo, e tudo ao redor parecia enorme. Ele dançou por dias, semanas e meses, sem jamais descansar. Começou a sentir dores, mas não podia parar de dançar. O cenário ao redor do palco mudava frequentemente: Primeiro parecia estar num enorme quarto de criança, depois numa sala, num velho galpão e por último, sentiu a terra tremer sob seus pés quando o palco inteiro caiu em um lugar ermo, que parecia um beco. O vidro rachou, mas ele não conseguia soltar a bailarina e fugir.
As pessoas que passavam pelo beco ouviam a música e se perguntavam de onde ela vinha, mas não sabiam da triste história de Heitor. Alguns ouviam gritos e gemidos vindos da caixa, mas achavam que eram apenas ilusões sonoras.
Anos se passaram e Heitor se transformou em uma criatura assustadora, sem vida e sem alma, mas ainda dançando dentro da caixa de música. Sua pele estava enrugada e seca, seus olhos estavam vidrados e sem expressão. As pessoas que o viam dançando ficavam paralisadas de medo e corriam dali o mais rápido possível.
Certa noite um homem que vivia em situação de rua assentou-se naquele beco. Entre seus delírios via um monstruoso homem dançando na caixinha de música que jazia em uma pilha de entulhos. Irritado pelo som contínuo, ele arremessou a caixinha com força para o meio da rua. Envelhecida pelo tempo, a madeira se partiu. João então retomou seu tamanho normal, o corpo minúsculo da bailarina em sua mão. Ele olhou os destroços ao seu lado e finalmente entendeu: Estivera preso numa caixinha de música. Dançou até o último de seus dias, como havia pedido. Tarde demais percebeu que desejos podem ser perigosos e gênios nem sempre são amáveis. Rodopiou uma última vez, involuntariamente, seu corpo exigia movimento contínuo. Carros passaram raspando por sua figura esquálida. Um policial tentou pará-lo, mas ele não conseguia deixar de dançar. Nas calçadas quem passava o via com pena ou desprezo: Mais um perdido na vida, delirante, sem eira nem beira. Aqueles olhares machucavam Heitor como facas. Sentia sede, fome e dores. Dançando chegou na avenida principal da cidade. Foi atingido por um caminhão que passava correndo pela contra mão. Morreu ao som distante de uma música que tocava em algum lugar.