Despertador tocou, noite morreu, amanheceu
O tempo passou, correu. O que aconteceu?
O que você deixou de ser quando cresceu?
Ficou no passado o sonho de princesa
Pula da cama depressa e põe o café na mesa
Arruma logo essa marmita e não esquece a sobremesa
E vê se corre pro ponto, não perde o horário da carruagem
Que já virou busão lotado e te assalta na passagem
Confere o visual, logo cedo passa batom e maquiagem
Salto alto pros pés que não encontraram sapato de cristal
Ta bonita? E tá cansada!Quanta correria pra quase nada no final
Se olhar pra cima, cadê o céu azul e as nuvens de algodão?
Só tem o teto e lâmpadas. Ou céu cinza, chuva ácida, poluição
Se olhar no espelho – Um susto! O tempo realmente voou
Onde, nesse percurso, tudo se perdeu? Onde será que ficou:
O sonho de ser bailarina, pirata, astronauta, caminhoneira?
E a alegria de ler um livro e depois desenhar a tarde inteira?
O que você deixou de ser quando cresceu?
Trocou os brinquedos por uma profissão
Mas ninguém te avisou que o trabalho seria sua prisão?
Deixou pra trás tantos sonhos, tantas estradas
Agora se perde nas escadas
Buscando o lugar mais alto da tal pirâmide social
Nem se importa mais se o mundo é desigual
Perdeu a empatia até pela natureza, pelo animal
O que será que aconteceu? Onde você se perdeu?
O que você deixou de ser quando cresceu?
A criança deixada numa curva qualquer
Reaparece no dia 12 de outubro em alguma fotografia
Se ela pudesse falar com você, o que será que diria?
Será que te olhando agora, ela iria se reconhecer?
E amanhã, e depois e depois? Até quando vai se arrastar?
O que você perdeu? O que deixou de ser quando cresceu?
O que eu, você, ele, nós, ela, o que todo mundo esqueceu?
Será que o sentido de viver é apenas sobreviver?
Olha pra trás e dessa vez tenta não esquecer
Que você pode (e deve) sim amadurecer
Mas não deve abandonar num canto da estrada
Aquela criança que sonhava acordada
E tinha no coração a esperança de fazer
De seu caminho, um novo alvorecer
Obrigado, Darlene, por me ajudar a divulgar cultura.
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