Hoje
a tempestade avança por dentro de mim. Rodopia por entre as minhas
dúvidas, me assombra. Me sinto um caos! Um pedido soa longe:
“socorro”! E gritos me atordoam... O pequeno barco já partiu do
cais, agora minha viagem não tem volta. Minha jornada na solidão
começa assim, apenas um cais vazio, sem acenos ou despedidas. Apenas
vou, com meus farrapos na pele e minhas verdades não esclarecidas.
Meu barco passará pelas insônias e pelos rios vermelhos, e
acordarei na neblina dos meus próprios sonhos.
Estúpida e mansa,
como na infância... Tola e covarde, como na juventude. Apenas sigo,
navegando no mar de ideias, tentando não naufragar nas agonias
presas na garganta, apenas sussurrar tem sido meu escape, breves e
pavorosos. Louca! Uma voz suave ao meu ouvido, toda noite. Louca?
Acho que já não é tanta loucura assim que me mantém. Deixei meu
monstro interior preso no baú das minhas delícias, não sou dele
mais, sou apenas uma moça que navega na imensidão das águas
claras, procurando uma parte da infância, procurando outra metade.
A
tempestade é verdadeira agora e faz meu barco balançar de um lado
para o outro, não tenho mais controle dele, nem de mim. O vento é
forte, a tempestade me alcançou e agora faço parte dela... E ela
consegue me atirar no mar gélido e sinistro, e agora faço parte
dele, sou agora mais uma de suas ideias. E lentamente meu corpo se
vai, feito um bailado em câmera lenta. E meu corpo cintila, vultos
claros me envolvem, como se saíssem de dentro mim, saíam os medos e
os pesadelos, saíam as sobras, os desamores... Acordei na praia. Um
praia colorida, sua areia brilhava feito cristal. Paralisei-me,
olhando minhas mãos transparentes... Uma música soava, igual
aquelas caixinhas com bailarinas... E eu corria ao encontro da
música, as folhas no chão corriam comigo, e eu brincava com elas e
sorríamos, éramos crianças... E cada folha era um sorriso, e eu já
não sabia se era uma criança correndo ou uma daquelas estranhas
folhas.
O mar já não existia dentro de mim, já não sentia saudade
do monstro que tranquei, e já não lembrava da tempestade... Sou
agora apenas uma rocha ou flor? Uma folhagem que corre ou abismo sem
cor? Fumaça do vulcão ou música secreta? Sou a caixinha ou a
criança tentando dar corda? Estou perdida na praia, não estou?! O
sol queima na pele... Já é manhã dentro de mim.
A tempestade me
abraçara forte, sou agora uma moça perdida, tentando achar o
caminho de volta pra casa.
Sulla Mino,
Obrigado. Me deixou feliz.
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