UM SONHO DE NATAL
Mario Rezende
Era
noite de Natal e dois motivos estavam deixando o menino Daniel muito ansioso.
Ele ficou aquela noite com os seus avós, porque os pais dele estavam no
hospital (vão ganhar uma menininha, uma irmãzinha para ele). A sua avó disse
que vai ser o presente de Natal da família, por isso o nome dela será
Natalina. Daniel estava tentando ficar
acordado para esperar o Papai Noel.
O
seu avô acendeu a lareira e ele ficou preocupado porque o Papai Noel não
poderia descer por ela. Então, ele jogou água no fogo enquanto seu avô
cochilava. Mas, como estava muito frio, seu avô logo percebeu que a chama tinha
se apagado e voltou a por fogo na madeira.
Realmente
era muito mais agradável a sala aquecida, mas iria atrapalhar o Papai Noel e
ele acabaria ficando sem o seu presente – Daniel pensou. Quando ia jogar água
novamente no fogo...
-
O que é isso, menino? Por que está apagando o fogo? – O avô perguntou.
-
O Papai Noel não vai poder entrar se o fogo ficar aceso. Fica muito quente.
-
Ah! O Papai Noel?! Ele sempre dá um jeito.
-
E se ele ficar irritado porque não conseguiu entrar pela chaminé e der o meu
presente pra outra criança?
-
Tem muita criança que mora em apartamento e casa sem chaminé e nem por isso
deixam de receber a visita do Papai Noel e ganhar presente no Natal.
-
É mesmo, vovô! Não tinha pensado nisso. Mas ele deve preferir entrar pela
chaminé nas casas, porque não é fechada e ele desce por uma corda enquanto as
renas ficam voando no céu, sobre a casa. Como ele faz pra deixar os presentes pras
crianças que moram em apartamentos e casas sem chaminé?
-
Daniel, você nunca ouviu falar em magia do Natal? Ele deve ser mágico. Tem
muita coisa que não tem explicação mesmo. Eu também acho que ele não entrega
presentes nas casas enquanto as pessoas estão acordadas. É melhor você dormir,
senão vai atrasar todo o trabalho dele.
-
É mesmo não é vovô? Eu vou dormir.
-
Vai sim, Daniel. Amanhã, quando você acordar, com certeza o seu presente estará
perto da árvore de Natal e a sua irmãzinha vai ter chegado.
-
A cegonha vai trazer a minha irmã aqui em casa?
-
Que cegonha? Ah! A cegonha... Não, ela levou a sua irmãzinha e entregou a sua
mãe lá no hospital.
-
Agora as coisas estão mais complicadas, não é vovô? A minha avó falou que
antigamente as pessoas moravam todas em casa. Então era mais fácil pro Papai
Noel e pra cegonha. Agora ela tem que levar o bebê no hospital com hora marcada
e tudo.
-
Você tem cada ideia Daniel! Vai dormir que amanhã estará tudo resolvido. Você
vai ver.
Daniel
já estava mais dormindo que acordado e começou a sonhar. Ouviu sininhos do lado
de fora da casa e logo depois Papai Noel apareceu na porta do quarto dele.
-
Ho, ho, ho, boa noite Daniel! Feliz Natal! Seja um menino bonzinho!
No
seu sonho, Daniel ficou quietinho para o Papai Noel não perceber que estava
acordado e sorriu feliz porque ele deveria se mágico mesmo, como disse o seu
avô. Ele sabe o nome dele, então deve saber o de todas as crianças do mundo.
Papai Noel sabia que ele estava acordado no seu sonho e foi falar com ele.
- Sabia que o seu avô usa sapatos verdes como
os duendes?
-
Ele usa sapatos verdes porque só fala a verdade.
-
Mas o que tem a ver a cor dos sapatos com isso?
-
Eu não sei. Nem sei por que os sapatos entraram no meu sonho.
-
Se quem usa sapatos verdes só fala a verdade ele não deveria ter mentido pra você.
Será que ele não usa sapatos vermelhos de vez em quando?
-
Ele mentiu pra mim?!
-
Ele não disse pra você que Papai Noel iria lhe dar um presente?
-
Disse, Papai Noel. E você não está aqui?
-
O que foi que você escolheu mesmo?
-
Eu falei pro meu avô no dia que ele recebeu o pagamento da aposentadoria. A
gente foi ao shopping, comemos no Mac Donalds e depois a gente foi olhar as
vitrines. Ele disse que era pra eu escolher um presente de Natal. Aí eu falei pra
ele: “ Mas eu não preciso escolher, o Papai Noel já deve saber que eu quero
aquele brinquedo ali.“Acho melhor você pensar em outro presente pro Papai Noel
ter outra opção, porque aquele é muito caro” -
ele falou enquanto me levava pra vitrine de uma livraria. Eu nunca vi o
meu avô lendo um livro, só jornal. Será que ele estava pensando em comprar um
livro pra mim? Já não bastam os que a gente tem que ler na escola?
Eu
tinha que tirar ele de lá. Então eu disse que estava com vontade de fazer xixi
e ele me levou ao banheiro. Como eu sou pequeno, não consigo fazer xixi onde os
homens maiores fazem, então tenho que usar uma cabine, aí foi mais fácil fingir
que fiz, porque não estava com vontade nenhuma. Felizmente parece que ele
desistiu do livro, porque não voltou pra livraria. Mas eu acho que foi por
causa de uma loja de roupas infantis que ele mudou de ideia. “ Não, roupa não!”
– Eu pensei. Quem ganha livro e roupa é gente grande.
A
sorte é que meu avô já foi criança do sexo masculino e ele deve ter entendido a
minha situação, apesar de que na época não deveria existir tantas opções como
agora.
Passamos
pela vitrine da loja de roupas e eu estava tentando puxar o meu avô pro outro
lado. Ainda bem que não entramos naquela loja também. Então, ele me levou pra
onde o Papal Noel deve comprar os presentes das crianças, porque tinha muito
brinquedo. Aí eu mostrei pra ele um outro que eu também gostaria de ganhar no
Natal.
Quando
Daniel acordou, bem cedinho, foi correndo para a sala ver se tinha alguma surpresa.
O seu avô estava sentado no sofá lendo o jornal. Também estava lá, ao pé da
árvore, o seu presente. Desembrulhou rapidamente e descobriu que era o mesmo
brinquedo que ele tinha visto no shopping.
-
E ainda tem gente que não acredita em Papai Noel, não é vovô? “ Eu acredito e
agora sei que existe um Papai Noel pra cada criança. Por isso é que todas
ganham presentes no Natal. O meu Papai Noel é o meu vovô” – pensou.
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